quinta-feira, 23 de abril de 2009

Fênix

Ela estava indubitavelmente morta. Seu corpo triste e frio jazia em qualquer lugar sem que ninguém o houvesse encontrado. Foi então que a magia se deu. Como cobra que abandona a antiga pele que já não lhe serve, ela saiu de seu cadáver. Primeiro pensei estar diante de um recém nascido. Depois fitando aqueles olhos cansados jurei que ainda era uma morta, desperta, porém morta.
Diante de figura tão dispare e tão duvidosa me rendi a minha intriga e pus-me a observá-la na esperança de obter, uma migalha que fosse, de resposta sobre o ser a minha frente.
Tive certeza de que via o mundo pela primeira vez. Que era um bebê empenhado em novas descobertas, porém seu olhar não era de fascínio, surpresa ou curiosidade. Eram olhos às vezes tristonhos, às vezes ácidos, odiosos, nostálgicos, decepcionados saudosos ou tristes. Mais tarde soube que fora de fato a primeira vez que aqueles olhos espiaram o mundo, porém traziam em si o filtro daquela alma velha impregnada com as infinitas vidas anteriores e com todas as mortes.
Aquela contradição a minha frente teria uma vida feliz, talvez breve, porém feliz. Vislumbrando-a me perguntei quantas vezes não teria eu feito o mesmo. Foi então que morri.

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