terça-feira, 30 de março de 2010

Era brincar de ser equilibrista em um pavio aceso sobre um abismo dentro de um caixa de vidro.
Uma hora acabaria

quinta-feira, 25 de março de 2010

Fatique

Olhou ao redor com tédio. Tudo o que poderia conhecer já soava familiar. Ela já sabia exatamente como agir. Ainda esperava alguma coisa inesperada para desconserta-la, mas já esperava descrente. De tanto esperar já havia pensado em tudo que poderia acontecer. Será que nada seria realmente novo?
O que ela não via é que dali ela era o mais previsível

segunda-feira, 15 de março de 2010

Estava prestes a fechar a mala. Como estava vazia. Será que realmente não faltava nada? Não teve paciência para conferir. Fechou-a depressa como se fosse se arrepender caso não a fechasse naquele segundo. Não precisaria de muito mais. Caso precisasse teria como arranjar o que fosse. O desconhecido não era deserto, nem tão desconhecido assim era.
Tinha tudo já planejado em detalhes e mesmo assim levava na mala lugar para se surpreender.
Olhou para todo o quarto. A mala era um corpo estranho a ele. Era tudo o que levaria daquele lugar. Tirou alguns segundo para encarar tudo que deixaria. Se um dia voltaria? Se tudo estaria no lugar?
Voltou a olhar para o retângulo destoante em cima da cama. Era como se fugisse de casa, mas dessa vez era de verdade, não apenas um par de sapatos, bolachas e um urso de pelúcia numa trouxa. Era sério demais.
O quarto olhando a mala já a via como estranha. Não havia mais lugar naquele quarto pra ela. Não daquele jeito e a única maneira de abrir espaço era tomando o caminho mais comprido.
Pegou a mala.
Saiu pela porta com passos que fingiam ser decididos.
Antes de fechar totalmente a porta olhou para o interior do quarto. Ela voltaria, mas o conteúdo da mala seria outro.

sábado, 13 de março de 2010

Uma vez pelo menos tente me fazer uma coisa inesperada. Não me deixe querer acender mais um cigarro. Prenda minha visão pra que ela não queira mais olhar pro nada e me faça querer ficar exatamente onde estou.
Ai, arregalo meus olhos, olho nos teus, sorrio e finjo que encontrei o que eu procurava.
Vou olhar pro nada e acender mais um cigarro, sonhando com outros mundos distantes.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Não consigo escrever história nenhuma. Acredito que a causa seja esse meu mundo. Todos os personagens que invento ou conheço são variações de umas poucas matrizes. As situações se repetem em cenários mais ou menos diferentes. Quando penso a sensação que tenho é a de estar presa nele, há jeitos de sair, mas vejo com desdém os que tentam contar historias de um submundo boêmio que desconhecem, me divirto com a ingenuidade desses narradores, mesmo assim são mais livre que eu que presa no meu mundo de veludo, almofada e trato onde tudo se repete. Pra mim o único jeito de escrever seria fugir desse universo, mas ainda não consegui me convencer a me esforçar a sair dessa monotonia agradável.

terça-feira, 9 de março de 2010

O dia em que eu vou sumir

Você sabe que vai me fazer chorar hoje. Eu finjo que não, mas eu também sei que vou. É melhor assim. Que a flor já murcha caia e de espaço pro verão, mesmo que tardio verão. Alguma coisa precisa amadurecer agora.
Eu e você sabemos que eu não vou ficar bem, mas prefiro que as dores sejam rápidas e agudas. Então nessas palavras confusas e sem propósito busco sem sucesso me fazer melhor e me despedir. Você não vai mais me ver.
Ignorei o despertador. Dessa vez eu fico sonhando. Enterrei de volta minha cabeça no travesseiro, me enrolei no cobertor sozinha. Como era bom aquele mundo de sonho, o inesperado. Tudo que é novo. Eu até poderia acordar, mas não para viver o mesmo mundo de todos os dias. Só aceito acordar se meu dia for melhor que sonho.

sábado, 6 de março de 2010

Boa noite

Alguns dias a chuva tem que parar. Ela pode recomeçar no dia seguinte. Não precisa nem mostrar as estrelas. Só um dia frio, sem chuva, onde você pode esquecer o guarda-chuva e o que mais for. Não se precisa mais deles quando se tem a noite inteira.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Mais uma caneta ecoa ao cair no chão da sala. Olho da minha cadeira azul de braço algum desconhecido se contorcendo pra alcança-la. As coisas tem sido assim, cadeiras azuis, xerox e corridas em ônibus lotados, mais nada. É do jeito que eu queria. Assim não penso em mim, não me sinto sozinha, não me sinto desmotivada ou vazia, mas às vezes falta alguma coisa.