E então ela ia embora. Seus pés ardiam contra a areia quente. Ela andava devagar segurando seu chapéu vermelho para que o vento não o levasse. Seu chapéu vermelho era a única coisa alegre que carregava com sigo. Na verdade não carregava nada além da roupa de seu corpo, o chapéu e uma mente cheia. Quase não conseguia andar de tão pesados que eram seus pensamentos. Não se contentando em serem apenas pesados eles ainda atordoavam-na obstruindo sua visão, enroscando-se em seus cabelos e voando baixo perto dela tal qual um enxame de abelhas.
Ela lutava sem sucesso contra seus sentimentos. Tentava a todo custo esvaziar sua mente, mas cada vez que tentava o enxame se tornava maior e a tortura mais intensa. Seus pés não permitiam que ela corresse e mesmo que ela conseguisse sabia que seria inútil. Eles não a deixariam assim tão facilmente. Parar? Seguir? Correr? Voltar? Todas as opções pareciam erradas, mas no sufoco causado pelas abelhas acabava seguindo levada por seu orgulho bobo que agarrava sua mão e a puxava gentilmente como uma criança.
De repente um pensamento diferente surgiu diante dela, tinha um brilho diferente, não tentou atacá-la. Simplesmente ficou olhando pra ela por um bom tempo, por fim deu meia volta como se fosse voltar para o lugar de onde a menina vinha. Em meio à confusão de idéias uma delas conseguiu ser mais calma e chegou até a ser piedosa! Por um instante toda a confusão causada pelo enxame foi ignorada para se concentrar no novo pensamento. Parecia até que o enxame se acalmava na presença dele.
Era tentador largar a mão do orgulho bobo, voltar de onde tinha vindo e procurar o pensamento bom. Por um segundo ela parou, ia dar meia volta, mas a investida de um sentimento enfurecido chamado ilusão fez com que ela soltasse o chapéu vermelho e ele fosse levado para longe pelo vento. Ela correu em direção a ele, porém o enxame a atacava com mais força do que nunca e orgulho bobo a puxava com mais vontade. Ela se afastou ainda mais de onde vinha na tentativa de pegar seu chapéu. Seus pés arderam ainda mais até que não agüentou.
Deixou-se cair na areia fofa. Por alguns segundos ficou inconsciente. O enxame sumiu, a areia sumiu, a dor de seus pés sumiu. Quando voltou a si não conseguia se mexer devido ao peso dos pensamentos. Não conseguindo fazer mais nada se rendeu, ficou deitada na areia e deixou lagrimas se formarem e caírem. Cada lagrima que derrubava era seguida por uma idéia que se embriagava do choro e depois se afogava nele. Pouco a pouco sua mente ficou mansa. Orgulho bobo começou a ficar jovem até se tornar algo como um óvulo que ela pudesse carregar dentro de si sem maiores preocupações.
Pronto, tinha perdido a maioria de seus pensamentos. Mal sabia quem era agora. Depois de ficar inconsciente já não sabia mais de onde tinha vindo. Já não a preocupava o fato de ter que escolher entre ir voltar ou ficar, agora já não fazia mais diferença. Sua única preocupação era com seus pés doloridos.
Ficou sentada na areia, acariciada pelo vento, dando um descanso para seus pés. O vento foi ficando cada vez mais fraco, até que finalmente parou. A menina se levantou devagar, pegou o chapéu que estava caído um pouco à frente e seguiu em frente, sem saber pra onde ir, sem nada para lhe atordoar ou fazer companhia. Simplesmente seguiu.
Esse texto foi o único que eu escrevi e realmente gostei. Ele foi escrito a um ano atrás e apesar disso é muito atual pra mim. Esse ano ele foi publicado no jornal do grêmio com o título de simplesmente seguiu, mas era um título provisório só pra sair no jornal. Só ontem eu consegui encontrar um título que eu gostasse pra ele, então ele ta ai com o titulo certo e o mesmo erro de português de sempre.
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