sexta-feira, 20 de março de 2009

Sal

"Jasy ra'y ojovahéi hina" ("a lua nova renova a nossa face")



Era um dia frio, seco e de um calor horrível. O Céu cinza a fazia perder mais ainda suas esperanças. Vagando numa terra coberta de sal seus pés ardiam e ela estava cada vez mais desnorteada. Será que seu coração seria para sempre infértil? Procurava não refletir sobre isso para que sua caminhada não se interrompesse. Caminhava sempre, mas cada vez mais sem propósito. Caminhava em círculos diretamente para um abismo. Oscilava entre a vontade louca de se atirar e o apego que tinha da terra de antes. Valeria continuar na esperança de um dia talvez encontrar novamente um sementinha que florescesse em si ou acabava enfim seu caminho exaustivo? Algumas horas o Sol aparecia e ela, esboçando um sorriso, sentia novamente vontade de andar. Outras vezes o cansaço era tanto que ela chagava próxima de se tornar sal também.
Por mais que outros tentassem se aproximar dessa terra de sal ela sabia que nem um deles a tornaria mais fértil. Isso era algo que ela deveria fazer sozinha. Mas como? Seria mesmo possível? Ela jurava que não, mas algo dentro dela insistia em contradizê-la, em dizer que sim, em fazê-la seguir. Nas longas discussões que tinha com essa coisinha rebelde a única conclusão que chegava era que se insistisse acabaria ainda mais louca do que já provavelmente estava.
Dessa vez ela estava diante de um abismo, como os muitos que já se deparara e se desviara anteriormente. Dessa vez sentia-se disposta a mergulha-lo, mas novamente a coisinha começou a incomodá-la. Sentou-se então na beira do abismo para discutir pacientemente com ela quando uma pétala caiu próxima dela. Teria alguém jogado? De onde poderia vir se já não brotava nada por ali?
A pétala a fez lembrar dos diversos milagres que presenciara cotidianamente e não dava importância pois estava ocupada em sua busca por uma flor. Se milagres a rodeavam todo dia por que não um acertá-la em cheio e se fazer um broto, uma flor, um fruto. Quem sabe esse milhares de milagrezinhos não eram a própria flor que procurava?
Oh, havia muito o que discutir com a coisinha.

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