domingo, 6 de junho de 2010
Com o corpo inclinado na janela ela admirava a vista, porém sem muita admiração. Lembrava da primeira vez em que aquele pôr-do-sol a fascinara. Lembrava das primeiras vezes em que aquele lugar a confortava. Quando tudo aquilo constituía seu pequeno paraíso. Por que não era mais assim? Algo nela, talvez movido por nostalgia, queria que ela voltasse a amar aquele lugar, mas já era tarde. Era comum demais, era entediante e o pior, a mantinha presa ali. Logo Ricardo chegaria, mas ele era como a sala ou a janela, algo que a deslumbrara, algo pelo qual ela se apaixonara, mas que agora era apenas costume.Ricardo sempre doce. Era odiável o quanto ele a amava. Ela não conseguia suportar, se sentia culpada, queria desesperadamente livrar-se da culpa e responsabilidade de seu afeto. Ele deveria ser tão mais que um amante, deveria ser inalcansável, deveria ser um Deus, mas agora era só um outro apaixonado que não a deixava sair dali.Ela sabia que deixaria aquela vida, mas não por enquanto, ainda não, não havia como, para onde iria? E Ricardo? E o gato? Ah, o gato! Deixou a vista da janela e foi colocar mais leite no pires do gato, depois voltaria aos estudos até que Ricardo voltasse. Passaria um tempo indeterminado assim, mas um dia conseguiria enfim lhes deixar.
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