segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Castelos

Ana embaralhava as cartas concentrada. Artur olhava de longe desinteressado.
"Você realmente acredita que essas cartas vão te dizer alguma coisa?"
"Eu só quero tomar uma decisão."
"Você conseguiria sem as cartas"
Ela lançou-lhe um olhar de reprovação e voltou as cartas. Colocandos em leque sobre a mesa ainda sem revelá-las.
"O que você precisa decidir?"
"Eu não quero te falar."
"Você pode pensar sobre isso. Achar uma solução lógica."
"Essa é muito fácil de achar, mas eu não gostei dela."
"Então vai acreditar numa coisa mística? Assim? Fácil. Você não quer assumir as coisas? Você tem que enfrentar isso."
"Eu só quero um conselho. Um outro jeito de ver as coisas."
"Fala o que anda te incomodando."
"Eu não posso falar pra você"
"Por que?"
"Escolhe uma carta." Ana apontou para as cartas arrumadas na mesa.
A voz de Ana ecoava em sua cabeça. Se lembrou de muito tempo atrás. Quando andava metido a fazer mágica. Fora assim que conheceu Ana. Conhecido em comum os levaram aquele jantar chato. Para diverti-la tirou o baralho do bolso.
"Escolhe uma carta."
As firulas de sempre e ele descobria a carta dela. Era tudo um truque. Todos sabem que é. Mesmo assim chama de mágica e esperam que alguém se impressione, mas ninguém finge que acredita. Pedem para que repita para tentarem desvendar o truque. Ela não tentou adivinhar. Só sorriu e disse "Acertou". Logo mudaram de assunto e até que encontraram assuntos. Assuntos que acabaram por construir o carinho entre eles, porém o tempo todo em que estivera com ela nunca a vira com o tal baralho de tarot. Nem imagina que ela pudesse acreditar nisso.
Artur separou a carta, mas não revelou qual era.
"Você não respondeu, Ana, acredita mesmo nisso?"

"Não sei, às vezes sim às vezes não"
Artur já não entendia mais nada. Ela continuou a falar.
"É como você respondendo se acredita em Deus, mas é como se eu num quisesse me perguntar o tarot funciona ou não. Pra decisão que eu quero tomar tanto faz qual caminho eu tomo. Eu só quero escolher um. Cair pra qualquer dos lados do muro. O que eu não aguento é que as coisas continuem como estão"
"É como jogar cara ou corou fazendo um acordo com si mesmo. Se der cara eu mato ele se der coroa ele continua vivo."
Agora Ana que não entendia
"Era um vilão do Batman."
Ele espera qualquer reação dela. Curioso para ver qual seria, mas torcendo para que não o reprovasse. Ela sorri.
"Mas as cartas de tarot num dizem nada concreto. Você completa com a sua interpretação delas. Vira a carta"
"A morte"
"Não é ruim como você deve estar pensando. Ela significa recomeço. As coisas precisam morrer para poderem renascer. Essa carta só é ruim pra quem teme mudanças."
"Te responde alguma coisa."
"Sim, mas acho que eu já tinha decidido antes."
Ana foi embora naquela noite. Quando Artur se deu conta pensou que deveria ter pedido para que ela repetisse o procedimento, mas com a impressão de que não importava a carta que virasse. O final ainda seria o mesmo. Não eram mágicas, apenas truques e exepectadores fingindo acreditar.

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